10 discos essenciais: rock psicodélico


As transformações que levariam o rock à psicodelia davam sinais já em 1965. Naquele ano, os Beatles começaram o seu processo de evolução musical com Rubber Soul. Mas foi a partir de 1966 que a coisa começou a ficar mais séria quando cantores e bandas de rock buscaram expandir a criatividade e retratar através do som e da imagem, as sensações e alterações do estado de consciência geradas pelo consumo de alucinógenos como o LSD. A inspiração na música indiana (como o uso de cítara indiana), efeitos de gravação - desde ecos a sons gravados ao contrário – e canções de longa duração se tornaram os principais elementos que caracterizaram o rock psicodélico. 

O gênero se tornou a trilha sonora do chamado “Verão do Amor”, em 1967, quando o movimento hippie estourou na costa oeste norte-americana, em San Francisco, na Califórnia, a “meca” da contracultura, e se espalhou pelo mundo pregando o lema “paz e amor”, a liberdade sexual, a preservação do meio ambiente e a quebra dos padrões conservadores e hipócritas de comportamento.

Apesar de o seu auge ter sido os anos 1960, a psicodelia no rock resiste ao tempo e aos modismos. Bandas como Tama Impala lá fora e a Boogarins aqui no Brasil, mantêm a chama psicodélica acesa em pleno século XXI. 

Confira abaixo dez de alguns dos álbuns mais representativos do rock psicodélico na época do seu auge. 

Revolver (Parlophone, 1966), The Beatles.  Rubber Soul (1965) foi o ponto de partida da aventura psicodélica dos Beatles, e Revolver, o álbum seguinte foi o seu desdobramento. Nele, os Beatles se mostram mais ousados e conectados com as vanguardas artísticas, unindo o experimentalismo de John Cage e Kalheinz Stockhausen, cultura indiana, música pop e truques de gravação como como sons em sentido contrário e efeitos sonoros. A fantástica “Yellow Submarine”, o pop barroco “Eleanor Rigby” e a lisérgica “Tomorrow Never Knows”, foram os hits do album. 

The Doors (Elektra, 1967), The Doors. Poesia, psicodelia e transgressão são os elementos que marcam o primeiro e homônimo álbum dos Doors. Amor, morte, violência e até incesto são temas presentes no álbum, carregados de grande aura poética nas letras. The Doors, o álbum, revela ao mundo o vocalista Jim Morrison, um misto de rock star, poeta e símbolo sexual, que se torna a própria imagem da banda californiana e uma das figuras icônicas da contracultura. "Break On Through (To The Other Side)", a polêmica “The End” e o megahit "Light My Fire" são as faixas mais conhecidas do album.


Surrealistic Pillow (RCA, 1967), Jefferson Airplane. O segundo do Jefferson Airplane marca a estreia de Grace Slick na banda, em substituição a Signe Toly Anderson por motivos de gravidez no final de 1966. Surrealistic Pillow traz uma sonoridade calcada numa combinação de folk, blues e psicodelia, e traz canções com letras que vão da fantasia lisérgica à temas com teor político, interpretadas pela voz poderosa de Slick e pelos vocais emotivos de Marty Balin. Destaques para as faixas "White Rabbit" (uma alusão a “Alice no País das Maravilhas e ao LSD), à linda balada “Today” e a "Somebody To Love" (defesa do amor livre).


The Piper At The Gates Of Dawn (EMI, 1967), Pink Floyd. O album de estreia do Pink Floyd teve a sua concepção gestada na mente conturbada de Syd Barret, guitarrista, vocalista e autor da maioria das faixas do álbum. Todo o conceito estético e musical e as letras cheias de fantasia e referências literárias foram fruto da imaginação Barret, alimentada pelo uso de LSD. O uso excessivo do alucinógeno o deixou dependente e atrapalhando seus compromissos profissionais, o que acabou forçando a sua saída da banda. Destaque para a psicodelia espacial de “Astronomy Domine” e para a viagem cósmica de “Interstellar Overdrive”.


Disraeli Gears (Reaction, 1967), Cream. Através da guitarra distorcida de Eric Clapton, do baixo robusto de Jack Bruce e da bateria jazzística de Ginger Baker, o Cream explora em seu segundo o álbum a combinação de blues e psicodelia, adicionando a isso o volume e o peso do rock. Não à toa, o Cream foi uma das bandas precursoras do hard rock. Destaques para “Strange Brew“’, Sunshine Of Your Love”, “Tales Of Brave Ulysses”.





Forever Changes (Elektra, 1967), Love. Terceiro álbum do Love, Forever Changes é o mais aclamado trabalho da banda liderada pelo vocalista Arthur Lee. Apesar de considerado uma obra-prima do psicodelismo, a atmosfera folk se mostra presente em todo o álbum, mas revelando-se em várias facetas. Se mostra misturada com o som dos mariachis (“Alone Again Or”), em uma faceta pop ("Old Man" e "The Red Telephone") ou envolta entre metais ("Maybe The People Would Be The Times Or Between Clark And Hilldale"). A beleza melódica, os arranjos bem construídos e sofisticados, e a o mesmo tempo dotados de simplicidade, não garantiram o sucesso de Forever Changes. O álbum foi um tremendo fracasso comercial. Sua reputação só foi reconhecida ao longo do tempo, fazendo-o figurar entre os mais importantes álbuns da história do rock.


Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Parlophone, 1967), The Beatles. Revolver parecia ser um álbum insuperável, até mesmo para os seus próprios criadores, os Beatles. Mas, eis que o quarteto de Liverpool surpreende o mundo mais uma vez e lança em junho de 1967,  Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o seu mais ambicioso e transformador álbum. Se passando por uma banda fictícia, a de um tal Sargento Pimenta, os Beatles mergulharam de cabeça na fantasia e na criatividade e não abriram mão de todos os recursos de gravação disponíveis na época para produzir um álbum tão inovador e diversificado. Orquestra sinfônica, música indiana, jazz, vaudeville, música circense, psicodelia, efeitos sonoros e uma arrojada superprodução gráfica da capa, todos esses elementos juntos tornaram Sgt. Pepper's… um dos mais revolucionários álbuns da história da indústria fonográfica. A faixa-titulo, "With A Little Help From My Friends", “Lucy In The sky With Diamonds” e "A Day In The Life" são os grandes momentos do álbum.


Odessey And Oracle (CBS, 1968), The Zombies. Segundo álbum da carreira dos Zombies, Odessey And Oracle é um dos mais belos álbuns da discografia psicodélica. Arranjos instrumentais muito bem elaborados e harmonizações vocais impecáveis. Os arranjos de cordas, metais e cravo dão um toque barroco ao álbum. A beleza melódica de “A Rose For Emily” chega a ser comovente, enquanto que "Time Of The Season" foi o hit de Odessey And Oracle. Ironicamente, quando o álbum estourou no mercado e chamou a atenção da grande mídia, a banda já havia acabado justamente porque seus membros estariam frustrados por não terem conquistado grande prestígio. Os Zombies só voltaram à ativa 23 anos depois, em 1991 e desde então já lançaram quatro álbuns.


Os Mutantes (Philips, 1968), Mutantes. A produção arrojada de Manoel Barenbein e os arranjos do maestro Rogério Duprat somados ao talento e rebeldia dos Mutantes, ajudaram a produzir um dos álbuns mais importantes do rock brasileiro. Os Mutantes eram um dos destaques do movimento tropicalista, encabeçado por Caetano Veloso e Gilberto Gil e promoveu uma profunda transformação da música brasileira. Em seu primeiro e homônimo álbum, os Mutantes combinam a psicodelia dos Beatles com a veia poética de Caetano e Gil ("Panis Et Circenses"), com o samba de Jorge Ben (“A Minha Menina”) e com o candomblé concretista de Gilberto Gil (“Batmacumba”).


Electric Ladyland (Track, 1968), The Jimi Hendrix Experience. Considerado o melhor álbum da Jimi Hendrix Experience, Electric Ladyland foi o terceiro e último trabalho do power trio. Lançado como álbum duplo, Electric Ladyland foi produzido pelo próprio Hendrix e nele o guitarrista exerceu total liberdade de criação podendo usufruir de todas as possibilidades tecnológicas de gravação da época. O resultado é um álbum eclético que vai do soul psicodélico ("Have You Ever Been (To Electric Ladyland)" ao blues lisérgico e viajante ("Voodoo Chile") passando pelo experimentalismo e efeitos de sonoros ("…And The Gods Made Love" e "Moon, Turn The Tides… Gently Away"). Destaques para "Crosstown Traffic", "Voodoo Child (Slight Return)" e "All Along The Watchtower", esta última de Bob Dylan à qual Hendrix deu uma nova e definitiva interpretação.


Comentários

Postar um comentário